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Saúde do solo - Barn Tendências em parceria com a Agroliga FGV

12/09/2024

Saúde do solo - Definições gerais 

Segundo a definição da USDA-NRCS (Serviço de Conservação de Recursos Naturais dos EUA), um solo saudável é aquele que mantém processos biológicos e químicos equilibrados, facilitando a retenção e o fornecimento de água, nutrientes e carbono, ao mesmo tempo que promove a biodiversidade e resiste a impactos externos.


A manutenção da saúde do solo é crucial para os sistemas agrícolas e para a sustentabilidade ambiental. Um solo saudável não apenas otimiza a produtividade agrícola ao proporcionar um ambiente adequado para o desenvolvimento das plantas, mas também atua como um regulador ambiental. Ele contribui para a qualidade da água, mitiga os efeitos das mudanças climáticas por meio do sequestro de carbono, e sustenta a diversidade de organismos essenciais. Além disso, apresentam resiliência, isto é, a capacidade de se recuperarem após distúrbios naturais ou antrópicos, assegurando a continuidade de suas funções ecológicas fundamentais.


Portanto, os microrganismos presentes no solo desempenham papéis fundamentais nos ciclos biogeoquímicos, promovendo a transformação e a disponibilidade de macronutrientes, micronutrientes e outros elementos essenciais para o crescimento das plantas e a sobrevivência de organismos vivos. Denominado microbiota do solo, o conjunto desses microrganismos é composto por fungos, bactérias, vírus e outros. 

 

Relevância do problema e tamanho da oportunidade


Considerando a diversidade e a dimensão das áreas naturais do Brasil, um dos principais problemas é a falta de conhecimento acerca da microbiologia exata dos solos, especialmente dos biomas exclusivamente brasileiros. Isso é resultante da grande extensão do território nacional e a necessidade de grandes esforços amostrais, que por vezes é limitado ao acesso restrito. Além disso, o ganho de conhecimento e profundidade no assunto é bastante recente, resultando em um déficit de análises elaboradas e disponibilizadas.


Outro grande problema é o desmatamento, impactando não só na flora e macrofauna de uma região, como na microbiota do solo. Isso devido à desestruturação física natural do solo e à incapacidade de microrganismos que prosperam em ambientes florestais de sobreviver nas novas condições impostas pelo uso agrícola ou pela degradação do solo.


A compactação do solo, causada pelo pisoteio do gado, pode reduzir a porosidade do solo, dificultando a infiltração de água e a troca de gases, afetando negativamente a saúde das plantas e a produtividade agrícola. Em contrapartida também há pontos positivos, como a adição de matéria orgânica e nutrientes ao solo pelas fezes do gado, melhorando a fertilidade e promovendo o crescimento das plantas. 


Sendo assim, o desmatamento e a conversão de floresta para pastagem são os principais pontos que alteram o balanço entre os microrganismos metanogênicos - que produzem metano - e metanotróficos - que consomem metano - no solo. Essa falta de balanço também tem um alto efeito poluente, já que dificulta a oxidação do metano e, consequentemente, aumenta sua liberação. Ou seja, a conservação da microbiota do solo por meio de práticas de manejo sustentáveis é essencial para manter a saúde dos ecossistemas e garantir a produtividade agrícola a longo prazo. 


A agricultura, quando manejada com práticas sustentáveis, exerce um papel essencial na manutenção e recuperação da saúde do solo, particularmente por meio de sistemas de cultivo diversificados. As leguminosas, por sua capacidade de fixar nitrogênio atmosférico através da associação simbiótica com bactérias fixadoras como o Rhizobium, desempenham uma função dupla: enriquecem o solo com nitrogênio biodisponível e criam um ambiente propício ao desenvolvimento de uma microbiota funcional. Além disso, suas raízes ramificadas atuam fisicamente na estruturação do solo, promovendo maior estabilidade agregada, retenção hídrica e aeração. Essas condições favorecem não apenas o crescimento das plantas subsequentes, mas também o equilíbrio de microorganismos benéficos que integram o ecossistema edáfico.


A rotação de culturas amplia esses benefícios ao promover uma dinâmica cíclica de renovação do solo. Cultivar diferentes espécies em sequência quebra ciclos de patógenos e pragas específicos, enquanto contribui para a diversificação de exsudatos radiculares e a modulação da composição microbiana do solo. Essa prática, quando aliada ao cultivo de leguminosas, potencializa a resiliência do agroecossistema ao reduzir o esgotamento de nutrientes, minimizar a compactação e aumentar a funcionalidade biológica do solo. Assim, sistemas de cultivo diversificados transcendem a simples produção agrícola, oferecendo um modelo integrado de regeneração ambiental e sustentabilidade a longo prazo.

 

Vantagens competitivas do Brasil


O Brasil é um dos países mais diversos em inúmeros aspectos. Uma dessas diversidades está presente nos solos, que possuem uma alta gama de características, graças aos diferentes fatores de formação. Em sua maioria, Latossolos, que possuem características de baixas fertilidade química, pH ácido e boas condições físicas- necessitando de correções, principalmente química e de acidez do solo para um bom desempenho agropecuário.


O tipo de solo consta como uma grande vantagem para o Brasil, devido a características que lhe dão baixo risco de erosão e alta estabilidade. Apesar disso, os outros solos existentes no país são mais susceptíveis a erosão, estão presentes em terrenos muito declivosos e com presença de pedras, ou não tem boa fertilidade química natural. Atualmente são manejados e conseguem alcançar sucesso nas produtividade através de práticas culturais sejam mecânicas ou químicas. Dessa maneira, a evolução da agropecuária brasileira tem apresentado novos modelos de produção, ao incorporar os princípios da agricultura conservacionista, como Sistema de Plantio Direto (SPD), Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Sistema Agroflorestal (SAF), que possibilitam o uso sustentável da terra e permitem o uso eficiente dos recursos locais disponíveis, buscando, portanto, solucionar a falta de benefícios de solos como os citados.


No sistema SPD destaca-se o preparo prévio do solo, com grande aporte de matéria orgânica, mas sem utilizar maquinário arado e grade, que revira as camadas do solo. No Brasil, esse sistema é muito bem sucedido devido à vantagem climática que permite mais de uma safra no ano. A partir disso, a rotação de culturas gera a formação de um bom ambiente biológico no solo, com diferentes nutrientes adquiridos. 


Outro aspecto altamente relevante da microbiologia do solo, é a grande quantidade de “serviços do solo” que são prestados por grande variedade de microrganismos do solo, auxiliando de uma maneira fundamental os sistemas agrários e naturais. Ou seja, o uso de inoculante com bactérias fixadoras de nitrogênio pode substituir a necessidade de adubação nitrogenada, como é o caso da cultura da soja brasileira. No caso dessa cultura, bactérias são as responsáveis por esse processo, substituindo o uso de adubos, e gerando uma economia de 13 bilhões de dólares anuais para o país (EMBRAPA, 2019).

 

Soluções e tendências


A relevância do tópico saúde do solo têm sido exponencial e agora é uma grande tendência, em qual a agropecuária se posiciona de forma positiva. Uma das abordagens mais promissoras é o manejo no campo através do, amplamente difundido no Brasil, SPD ou Plantio Direto, além de SAFs e ILPF. Outra crescente e demandada tecnologia é a análise de solo incluindo a microbiologia e recomendações personalizadas. Especialmente o uso de produtos biológicos proporciona uma excelente alternativa aos fertilizantes químicos, promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis e regenerativas. Esses produtos não apenas reduzem os impactos ambientais, mas também desempenham um papel essencial na restauração da microbiota do solo. Eles estimulam a atividade de microrganismos benéficos, aceleram a decomposição de matéria orgânica e otimizam a liberação de nutrientes para as plantas, fortalecendo sua resiliência contra estresses bióticos e abióticos.


Nos últimos anos, a adoção desses insumos tem crescido exponencialmente, refletindo uma mudança significativa na mentalidade do setor agrícola. Somente na safra 2023/2024, o mercado de biológicos registrou um crescimento de 15%, e a expectativa é de uma expansão anual de 21% no Brasil. A análise do microbioma do solo, em conjunto com manejos específicos no campo, fortalece ainda mais essa abordagem, oferecendo soluções personalizadas para produtores que buscam equilíbrio entre produtividade e conservação ambiental.


Os sistemas de manejo possuem grande influência e já detalhados, em relação ao monitoramento do solo, esse permite que haja uma análise detalhada de aspectos físicos, químicos e biológicos. O uso de sensores e sistemas de monitoramento avançados está se expandindo rapidamente, fornecendo dados precisos sobre a umidade, a temperatura, os nutrientes disponíveis e até mesmo a composição microbiana do solo. Inclusive, a formação de bancos de macro, meso e microorganismos de solo estão sendo formados a partir desses estudos e conseguem orientar com clareza as necessidades do solo para o produtor rural. Além disso, podem ser de grande serventia para revendas, por exemplo, como serviço para recomendar produtos personalizados para seus clientes. Com essas informações, os produtores podem adotar práticas de manejo mais eficientes, reduzindo o desgaste desnecessário do solo e favorecendo a sinergia entre o ambiente e as culturas cultivadas.


A agricultura de precisão é quem estimula a adoção dessas tecnologias. Ela possibilita um manejo mais eficaz dos recursos, mantendo a saúde do solo e promovendo o uso sustentável de insumos. Aliar boas práticas culturais, métodos de análise e correção e fertilização, promovem uma melhoria da qualidade do solo. Essa abordagem ajuda a evitar a degradação do solo, garantindo que ele permaneça produtivo e saudável ao longo do tempo, sem a necessidade de intervenções drásticas que possam prejudicar a microbiota ou o ecossistema local.

 

O que implica se o problema for solucionado


Uma boa saúde de solo é benéfica tanto para a agricultura, quanto para o meio ambiente. A melhoria da microbiota do solo pode levar a um aumento significativo na produtividade agrícola, reduzindo a necessidade de insumos químicos, ao fomentar o ecossistema e a melhora da qualidade do sistemas de desenvolvimento das culturas.. Ou seja, ao restaurar a biodiversidade do solo, o solo se torna capaz de sustentar culturas de forma mais eficiente e por períodos mais longos.


Com o fortalecimento da microbiota do solo, o sistema agrícola se torna mais resiliente a eventos climáticos extremos, como secas ou chuvas intensas. Isso pois, a melhoria da estrutura do solo promove uma melhor retenção de água e um aumento na capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas.


A prática de uma agricultura regenerativa, aliada ao uso de tecnologias que promovem a saúde do solo, pode aumentar a captura de carbono no solo, ajudando a reduzir os níveis de CO2 na atmosfera. Essa  movimentação não só contribui para o combate ao aquecimento global, mas também melhora a qualidade do solo, criando um ciclo virtuoso que fortalece a saúde ambiental de forma contínua.


Solucionar os desafios do equilíbrio físico, químico e biológico do solo traz benefícios que se estendem também à sustentabilidade a longo prazo da agricultura. A implementação de práticas agrícolas que respeitem e promovam a saúde do solo garantirá uma agricultura mais equilibrada e ocasionará na redução dos custos de produção para os agricultores, já que a necessidade de insumos externos será significativamente menor. A longo prazo, esse modelo de agricultura não só será mais rentável, mas mais sustentável, promovendo uma maior segurança alimentar global e protegendo os recursos naturais essenciais para as gerações futuras.

 

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